sábado, 23 de outubro de 2010

SERIADO ÍMPAR



(Capítulo Primeiro)


Tão dorida, já estava…
tão triste, meu Deus… tão triste,
- a rosa -, em áspero caminho!...
Por um afago, esperava…
assim, como o passarinho
faminto, espera o alpiste…
assim, como o sertanejo,
- tiritante de desejo -,
espera a chuva, rezando,
na latada da palhoça…
louvando Deus, e rogando
que caiam pingos na roça!





(Capítulo Segundo)


… Era fremente a tristeza
da rosa, fragilizada,
feito ovelha desgarrada,
cercada de aspereza…
envolta na chama imensa
que a dor da separação
mantém acesa e intensa,
à luz da recordação!





(Capítulo Terceiro)


… E então, - a rosa -, insegura,
- e mais e mais, impotente -,
pediu socorro à doçura!...
Mas, foi a voz da dureza,
que ditou: “se estás doente,
vai ao médico”. Ela, sentida
e acabrunhada, chorou
lágrimas de salgada dor!
… Uma semana, passou!...
Haja, dor! Haja, tristeza!
A rosa, desprotegida,
outra vez, não se conteve!…
Diante do dissabor,
chorou um choro saudoso,
lembrando um ninho amoroso,
onde, um doce afago, teve;
e onde teve guarida!
… Ah, se o “Beco da Peçonha”
pudesse falar por Ela,
diria, mirando a mata:
gosto da vida singela
que me permite sonhar,
vendo o melro se aninhar,
e banhar-se na cascata!





(Capítulo Quarto)


Cultuando a Natureza,
- com devoção fervorosa -,
a Rosa se ajoelhou
frente ao Altar da Pureza,
e ao Pai Celeste, implorou
por uma chuva de amor,
com essência milagrosa!…
“Daquela”, que rumoreja
nas telhas do coração!…
Que transbordante, goteja,
despertando excitação,
e com dulcíssimo sabor,
incensa o amoroso enlace
- de semblante encantador -,
nascido da poesia!...
“Daquela”, que em lírica prosa,
serpenteia audaciosa,
sedutora e benfazeja,
- repleta de fantasia -,
e com feição sonhadora,
canta, molhando a vidraça
vigilante e protetora
de um recinto encantado!...
“Daquela”, que quando embaça
as vitrines do desejo,
enchendo o ar de esplendor,
faz do enlace, um voejo
feliz e apaixonado!





(Capítulo Quinto)


Indago à chuva dos sonhos
sentimentais e risonhos:
Por que deixas descontente,
- e tratas com desamor -,
um coração sonhador,
que ama profundamente?!...
A medicina, não cura
as dores que afetam a alma!
Só quem consola, segura,
e essas dores acalma
com especial brandura,
é a mão compreensiva,
generosa, e afetiva,
de quem ama com ternura!


(Dilma Damasceno)
Natal/RN-Nordeste-Brasil, em 21 de Outubro de 2010

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