segunda-feira, 22 de outubro de 2007

MINHA SAGA (FANTASIA VERSUS REALIDADE) - V




“CONVIVENDO COM A CLAUSURA”



Nasci com o nascer do sol!...
No momento em que o sol se levanta!

Sou do signo de Leão, com ascendente também em Leão.
Nunca me dei bem com a inércia.
Jamais me acomodei.

Acho que por ser assim,
apesar da gravidade dos acidentes que sofri,
procurei superar as amarguras e os desencantos,
ocupando a mente com pensamentos de fé e de perseverança!

Decidi que,
nem a violência de criaturas desumanas,
nem a violência das águas turbulentas,
ceifariam meus ideais!...
E que, por mais ásperos que fossem os meus caminhos,
eu haveria de enfrentá-los!... Sem medos, e sem hesitações!

Redobrei os trabalhos, e me dediquei intensamente aos estudos.
Felizmente, a chama da esperança continuava acesa em meu íntimo!

Passei a ler mais... e resolvi participar de alguns concursos.
Fui aprovada em diversos, dentre os quais,
concurso realizado pelo Tribunal de Justiça do Rio Grande do Norte,
para o cargo de Escrivã e Tabeliã,
e concurso realizado para o Cargo de Contadora
da Prefeitura de Caicó/RN.

O então, Prefeito, após nomear-me, resolveu me oferecer 01 (um) curso,
custeado pela Prefeitura, precisamente, no lindo Rio de Janeiro,
onde passei alguns meses, unicamente estudando no
INSTITUTO BRASILEIRO DE ADMINISTRAÇÃO MUNICIPAL – IBAM.

Posteriormente, fiz outros cursos no IBAM,
e, na FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS - FGV!

Cumpre-me confessar, que a temporada no Rio de Janeiro
(Cidade Maravilhosa), me fez um enorme bem,
e, me deu disposição para cuidar da aparência!
Mesmo assim, eu não me interessei por ninguém,
e nem pensei em namoro!...
Os meus sonhos, continuavam dormindo!

No meu retorno à Caicó,
assumi duas funções de alta importância,
em relação às oportunidades de trabalho da Cidade:
ocupei, cumulativamente, as funções de Chefe da Contabilidade,
e, de Secretária de Finanças do Município.

Àquelas funções, me deixaram numa posição privilegiada,
e as mesmas pessoas que, antes,
me lançavam olhares de censura, passaram a me bajular!
Entretanto, eu encarava tudo, de forma indiferente!

No campo sensual, em me sentia em completo estado de hibernação.
Os olhares, os telefonemas, e os assédios, continuavam...
eu me sentia céptica, revoltada, acuada, angustiada...
e me isolava mais e mais!

Minha vida se limitava ao trabalho... o meu lazer e/ou entretenimento,
restringia-se ao campo literário (ler e escrever),
e às ações de natureza comunitária: Orfanatos e Asilos!

Eu era extremamente anti-social.
Minhas raras aparições em Sociedade, se limitavam aos compromissos
decorrentes das minhas funções laborais.

Nos despachos com o Prefeito,
Ele se mostrava gentil, educado, e amigo!
Sempre me prestigiava, e demonstrava uma amizade desinteressada.

Inúmeras vezes, viajamos juntos, para
Congressos, Simpósios, e Reuniões Administrativas.
Discreto e sério, quando me via taciturna,
respeitava o meu silêncio, e muitas vezes, me sugeria um bom livro, que,
segundo Ele, poderia melhorar o meu estado de espírito!
Sempre me tratou com o maior respeito!...
Pela forma como me tratava, merecidamente, conquistou o meu
reconhecimento, e aos poucos, conquistou a minha total confiança!...
E, por ser bastante culto e inteligente, advogado brilhante, e grande orador,
conquistou também, a minha fervorosa admiração!

Numa das viagens de trabalho, jantamos juntos...
e durante a conversação, me indagou se eu tinha namorado!...
Eu não tinha!

Havia rapazes que demonstravam interesse por mim,
muito embora eu não incentivasse qualquer aproximação.
Em verdade, eu não confiava nos pensamentos e nas intenções
dos representantes do sexo oposto!
Eu até poderia dizer, que tinha supostos pretendentes...
Mas, namorado, mesmo, eu não tinha!

Então, Ele encheu-se de entusiasmo, e declarou:
- Que, sabendo do que me acontecera...
e vendo-me tão jovem e atraente, e ao mesmo tempo, sempre tão séria,
pensativa, triste, e dedicada exclusivamente ao trabalho,
tinha se aproximado de mim, com o firme propósito de ajudar-me
a superar os meus traumatismos sentimentais...
- Que tinha feito tudo para evitar "envolver-se",
mas não tinha conseguido...

Diante de mim, portanto, um homem que eu admirava
como ser humano e como profissional... que sempre demonstrara ser
meu amigo e protetor... e que se declarava envolvido!
Naquele momento, dependia apenas de mim, considerar ou não,
o envolvimento que estava sendo revelado...

Não sei o que me deu!... Não consegui repelir!
E até hoje, eu fico a me perguntar:

Onde estava a “mulher guerreira”, naquele momento
de extrema fraqueza?!...

Eu já não suportava mais, levar "cantadas"... e, me fazia bem saber
que um homem experiente e qualificado, se interessava seriamente por mim!

Senti-me gratificada e envolvida! Mas, posso assegurar que
os pensamentos assimilados naquele momento, foram de:
proteção, confiança, admiração, reconhecimento, respeito, e resignação.

Pensei que podia ser o momento do “cessar fogo”, de recolher as armas,
e assinar um “Tratado de Paz” com a vida!

Minhas fantasias, estavam inertes... estranhamente, eu não sonhava...
não acreditava mais em contos de fada... e caminhava, como quem caminha
em constante perigo de afundar em areias movediças...

Eu vivia tentando equilibrar-me na linha da vida...
como quem procura o equilíbrio para não cair da corda bamba...
Eu sabia... eu sentia, que bastaria um descuido de minha parte...
e os leões estavam na tocaia... prontos para o ataque!...
Sabia também, que se um novo infortúnio me acontecesse,
eu morreria!

Aceitei a nova situação,
como quem se agarra à uma tábua de salvação!

Ele tinha 20 (vinte) anos a mais do que eu!
Para mim, portanto, começaria novo ciclo!...

Pensei nos meus “sonhos cor de rosa”, e na cerimônia
do “casamento simbólico, no mar”, que eu sempre idealizara,
mas que não se realizaria naquela forma de envolvimento!
E que talvez, não se realizasse jamais!

Decidi que mergulharia num “casulo”!...
E ali, eu haveria de ficar!...
Até quando?!...
Não sabia!

Resolvemos que nosso relacionamento, seria assumido em Natal/RN,
com a possibilidade de passarmos a residir no Rio de Janeiro/RJ.

Vim para Natal, desejosa de ampliar meus conhecimentos,
pois em Caicó, ainda não existia o Ensino Superior!

Passei a morar sozinha num pequeno apartamento que comprei financiado,
usando como “entrada”, parte das reservas que fizera...

Eu havia montado um Escritório de Contabilidade Pública, em Caicó,
e houve período de ter aos meus cuidados profissionais, 15 (quinze) Prefeituras.
Eu trabalhava arduamente, e não descansava nem mesmo, nos feriados.
Em verdade, eu me alimentava de trabalho, e obviamente,
tinha um bom faturamento.
Mas, nunca fui gananciosa, e nunca procurei viver com luxo!
Quando sobrava um dinheirinho, eu destinava às causas que
desde cedo, abracei... que envolviam mobilizações de assistência
aos “asilos” e “orfanatos”!

O homem que desarmou a “mulher guerreira”,
não veio para Natal, exclusivamente por minha causa!
Não me importei!...

Mas, por que, meu Deus, a “mulher guerreira”, não retomou as armas,
e evitou àquela nova fraqueza?!...

- A dureza da vida havia me transformado
numa pessoa sem maiores desejos!

Ele demonstrava ter um forte sentimento por mim!...
eu via nele, um mito... um ser superior... um ídolo...
eu não enxergava propriamente, um ser do sexo oposto...
eu via um ser magnânimo... uma fonte de conhecimentos,
que me causava a impressão, de ser inesgotável...

Ingenuamente, eu acreditava que existia entre nós,
um sentimento de pura predestinação!

E eis que nossa predestinação se manteve por quase 18 (dezoito) anos!...
Tempo, que para mim, foi uma compulsória eternidade,
pois, caracterizou-se marcado pela solidão e pela clausura!

Com ele, tive o meu único filho...
O que de bom me aconteceu, em nosso relacionamento:
Allan, um ser humano especial, verdadeiro, puro e doce,
inteligente, responsável, e solidário...
em suma: um filho maravilhoso!...
Mais que filho, Allan é meu melhor amigo e meu fiel confidente!

É duro ter que mencionar certos fatos...
porém, atrelada ao sentimento de franqueza que me rege,
e ao propósito de falar, de coração aberto, cumpre-me relatar:

O pai de Allan, foi para mim:
chefe, conselheiro, pai, irmão, protetor, amigo, e, “amante”!...
mas, não foi meu companheiro!

Como "cara metade", Ele foi o meu maior engano...
o meu maior pecado... e a minha maior fraqueza... considerando,
os longos anos de desprendimento, e de renúncia, de minha parte!...
Como também, os momentos marcantes de minha vida,
em que Ele sempre me deixou sozinha!

Foi assim, quando perdi a minha mãe!...
Quando fui para a maternidade, ter o nosso filho!...
Quando levei Allan para iniciar os estudos...
e, quando colei grau em cursos superiores!

Vale salientar que, tão logo cheguei em Natal,
fui convidada para um cargo de confiança na Prefeitura...
- Aceitei!

Depois, retomei os estudos!
Ampliei meus conhecimentos contábeis à nível de licenciatura plena...
Fiz "Serviço Social"... e, em seguida, “Direito”!

Depois de colar grau em Direito, submeti-me a um concurso
na área jurídica, e, aprovada, passei a trabalhar como advogada da
COMPANHIA ENERGÉTICA DO RIO GRANDE DO NORTE - COSERN!

Eu sempre me sustentei!
Nunca aceitei “nada”, do meu ex-parceiro,
além do filho que Deus me permitiu ter!

Dói-me constatar que, da mesma forma que Ele foi “ausente”, comigo...
também foi “ausente” com o filho!... E de uma ausência absurda e injusta!
Que fosse “ausente” comigo, que permiti suas omissões,
eu podia suportar...
Mas, “ausente” com Allan, com o próprio filho...
isso”, sempre foi extremamente doloroso e insuportável para mim!

Entretanto, vale ressaltar que, as desilusões sofridas,
contribuíram para aumentar ainda mais, o meu senso de responsabilidade!...
Eu havia colocado um filho no mundo... e precisava cuidar dele!...
Além de amá-lo, eu precisava protegê-lo... defendê-lo dos perigos...
educá-lo... e prepará-lo para a vida!

E, consciente da realidade que deveria enfrentar, sozinha,
o meu espírito de luta tornou-se mais forte!

A solidão, porém, começava a doer!

Castigada pela fome de carinho, e, pela sede de ternura,
eu suportava o vazio, com transparente nostalgia!...

Amenizava minha solidão, de várias formas:
passando os finais de semana no campo (numa pequena Chácara)...
me cercando de plantas e de animais...
lendo e escrevendo poesias e crônicas...
e, por que não dizer?!...
- Divagando!

Já então, o sonho, teimava em ressurgir!...
E eu pressentia que minha vida, mais uma vez, iria mudar...

18 (dezoito) anos atrás (em 1988), adormeci "mal amada",
e acordei desejosa de assumir a minha solidão perante o mundo!

Como sempre fui extremamente leal e franca,
ao sentir-me completamente desmotivada, conversei com o
"meu quase tudo, menos companheiro",
e ficou decidido que daquele momento em diante,
não haveria mais “obrigações” entre nós!

Acho até que, indiretamente,
Ele me induziu a optar pelo fim do nosso relacionamento!...

Não seria pois,
o momento de ajoelhar-me no altar do arrependimento,
e penitenciar-me pelos pecados que cometi,
e pelas fraquezas que tive?!...

Ao mesmo tempo,
penso que a maior penitência, já se encontra remida...
diluída em 17 (dezessete) anos de enclausuramento!

Portanto, não podia parecer diferente!...
O decreto que me libertava da “clausura”,
tinha feição de auspicioso sonho!

Terminava assim, um importante e tumultuado ciclo de minha vida,
no qual eu me deixara envolver, dominar, conduzir!

Começaria o ciclo, no qual, a palavra “liberdade”,
seria exercitada na plenitude da expressão!


(Dilma Damasceno)

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