domingo, 7 de outubro de 2007

MINHA SAGA (FANTASIA VERSUS REALIDADE) - IV



“TEMPOS DE TURBULÊNCIA”


Adormecer "adolescente romântica", e acordar
"mulher guerreira", não era nada fácil de vivenciar!
Porém, o que fazer?
A lei da selva, falara mais alto!

O novo ciclo que se iniciava, era difícil, duro,
cheio de enigmas e de dificuldades.
Ali, não existia lugar para sonhos!
Imagine, só!...
Numa cidade pequena do alto sertão nordestino,
38 (trinta e nove) anos atrás, uma "coisa" como àquela!...
Era caso para execração em praça pública!
Por muito menos, o Bando de Lampião (Rei do Cangaço),
torturava e fuzilava!

Eis, que começava a fase de críticas,
de olhares indiscretos, de fofocas,
de cochichos!
Eu demonstrava indiferença.
Meu coração, estava fechado!...
A minha alma, vazia!
A mulher guerreira, pensava,
raçava planos,
consultava mapas!
Apesar dos pesares,
não pretendia renunciar definitivamente, aos sonhos!...
Deixá-los-ia à mercê do tempo,
para retomá-los no momento próprio!

O 1º passo, era procurar um trabalho.
O 2º, era ficar o máximo possível, distante de pessoas
do sexo masculino!

Consegui o primeiro trabalho, como "caixa",
numa grande loja de tecidos.
Mas, logo observei que o proprietário não tirava os olhos de mim,
e com apenas uma semana, passou a fazer certas insinuações.
Meu espírito,
então, muito alerta, farejou aborrecimentos e complicações.
Saí!

Procurei novo trabalho, e,
consegui uma vaga num Escritório de Contabilidade.
O dono, um senhor considerado íntegro e respeitável,
sempre me passava tarefas
para serem realizadas após o horário normal.
De vez em quando, eu o surpreendia
me olhando com olhar demorado!
Eu fazia de conta que não notava,
por dois motivos:
Primeiro,
porque sabia que Ele era um ser solidário e generoso;
segundo,
porque gostava do que fazia, e precisava do trabalho!
Felizmente,
Ele não se manifestou além da contemplação ardorosa,
e enquanto permaneci no Escritório,
pude trabalhar com tranqüilidade!

Algum tempo depois,
fiquei sabendo que um primo meu,
médico dedicado à pobreza,
deputado estadual e futuro candidato a Prefeito
da Cidade, havia recomendado que me tratassem bem
(vale considerar que no Interior,
os políticos com formação em medicina, sempre se destacam,
e são muito respeitados).
Coincidência ou não, o fato é que, em pouco tempo como
auxiliar de serviços contábeis”,
eu era requisitada para as tarefas
de maior responsabilidade.

Do Chefe e Dono do Escritório Contábil,
recebi ensinamentos importantes,
e sempre fui tratada com especial consideração.
Mais tarde, ao mudar-se da Cidade,
Ele me proporcionou a oportunidade
de substituí-lo em importante cargo,
na Prefeitura Municipal.

Nesse período, eu praticamente,
passava as noites, lendo e/ou escrevendo!...
Jorge Amado, Érico Veríssimo, A. J. Cronin,
José de Alencar, Augusto dos Anjos,
e J. G. de Araújo Jorge,
não saiam da mesa de cabeceira da minha cama.

Li toda a coleção:
"ANGÉLICA", de Anne e Serge Golon.
Dormia pouquíssimo.
Sentia ansiedade, palpitações, insônia!
Precisei procurar um médico,
que diagnosticou “distonia neurovegetativa”
(sei lá, como se escreve isso...),
e prescreveu "dienpax", salvo engano, 5 mg!
Pedia meu retorno de 15 em 15 dias.
E numa das consultas, notei que o seu olhar
percorria meu corpo, com insistência.
Encabulada, perguntei-lhe o que havia
de anormal, e Ele, completamente descontrolado, falou:
"se você quiser,
podemos ser mais do que médico e paciente
..."

Colhida pela surpresa, não achei o que responder.
E morrendo de angústia
e de vergonha, saí apressadamente,
e, nunca mais, voltei lá!
A tal da "distonia",
ficou por conta dos chás de canela,
de folha de laranja,
de erva doce,
e de camomila,
que minha mãe passou a fazer
para ver se eu conseguia dormir direito!

Entre um chá e outro, eu escrevia...


ALUCINAÇÕES


No silêncio angustiante do meu quarto,
tudo é saudade e nostalgia. Inquietação, também.
Extravasar meus sentimentos, não posso!
Entretanto, posso ouvir a voz do vento
e a voz do mar,
solidárias com meu tormento.

Existe romantismo em mim,
mas, só agora, compreendi que é inútil sonhar!...
A realidade é dura e fustigante,
como a vida do deserto abrasador.
Quisera ser feliz!

No meu “hoje” de cansaço e de tristeza,
existe um “ontem”, onde a nostalgia
flutua mansamente, tal qual um barco
a vagar em águas turvas e noite fria...
Quão triste é o pôr-do-sol!

A dor que me invade o peito
e me estraçalha a alma...
tem mistura de mágoa e de saudade...
faz-me lembrar dos sonhos que não tive...
e que não sei se chegarei a ter!
já não brilham as estrelas do meu universo...
e é bem grande o infinito do meu céu!
Quem sabe, eu já morri?
Preciso renascer!


Comecei a “achar” que havia alguma coisa errada comigo!
Por que os olhares masculinos eram tão insistentes?!...
Eu era pobre, e geralmente, me vestia com simplicidade.
Jamais fui leviana.
Nunca fui exibida!
Então, “por que”?!...

E muitas vezes, eu me surpreendi, pensando:
Meu Deus! Será que não existirá esperança para mim?

A partir do momento em que passei a trabalhar,
eu me transferi da Juventude
Operária Católica – JEC,
para a Juventude Operária Católica – JOC.
Eventualmente, ocorriam encontros religiosos,
com a participação de Jocistas de outras localidades.
Os trabalhos assistenciais me ajudavam a suportar os desencantos.
Eu costumava ir à missa aos domingos à tarde...
e sempre me confessava.
Numa das confissões,
resolvi falar de minhas inquietações sobre
"acho" e "por que?"...
e para minha surpresa, o Padre, externou:
"Filha, você transpira sexualidade por todos os poros"!

Rebati com veemência:
Padre, eu não penso em sexo, e nem penso mais no amor.
Já não sou mais uma adolescente romântica e sonhadora!...
Decidi que devo ser apenas, guerreira!
A tréplica foi ainda mais forte:
"Filha, nem que você fosse uma freira,
deixaria de despertar desejos
"!
Conclusão:
achei” que seria melhor passar a confessar-me diretamente com Deus!

A poesia fervilhava no meu íntimo!
Em alguns momentos, eu sentia ímpetos de gritar versos...



IMAGINAÇÃO


“Vai tocando: O teu destino foi gravado na areia.
Tudo é poema, criança. Você não sabe nada, felizmente:
saber é saber que não se sabe.”
(AUGUSTO MEYER)


Longe... Bem longe... Na voz do vento,
o mar transmite fluidos de amor!...
É noite alta!... No pensamento,
escuto queixas de um trovador...

Intensa e forte,
a tristeza grita,
e na noite, ecoa!
Sem luz... sem norte...
minh’alma, aflita,
delira, e voa!

O mar se cala. A viola geme. O poeta chora!
Depois, silêncio. Longe... bem longe...
Só o lamento de triste monge...
cuja esperança, já não vigora!


Até então, eu não prestava atenção em minha aparência!
Resolvi me olhar...
e constatei que meu corpo estava, bem modelado!
Minha cintura, de tão fina,
parecia, como na música de Luiz Gonzaga,
"cintura de pilão"!
Mesmo assim, na minha opinião, não existia nada
de extraordinário, nada de "tentador",
e nada de "transpirar sexualidade"!
Eu nunca superestimei meu aspecto físico ou minha compleição!
Sempre me achei uma pessoa comum!...
Sei porém, que sempre fui intimamente arrojada,
e que isso sempre transparecia
no meu olhar, nas minhas atitudes, na minha expressão!...
Não, de forma deliberada, e sim, naturalmente!...
Sem que eu conseguisse evitar!

Os assédios, continuavam.
Os olhares ousados e atrevidos, se multiplicavam.
Os telefonemas, e os famosos "trotes", não me davam sossego!
Eu me sentia como um animal ferido, acossado,
perseguido com fúria selvagem!
Nesses momentos, eu apelava para minha natureza rebelde,
que sempre me acudia!...

Com determinação, eu multiplicava esforços,
e prometia a mim mesma, que não me deixaria pegar!...
Que encontraria uma forma de escapar à perseguição!

Passei a agir como se fosse cega, surda, e muda.
Comecei a usar roupas
que escondiam minhas formas.
E "fiz de conta" que era assexuada!

A minha falta de sorte me transformara em objeto sexual
(só na cabeça dos meus perseguidores)!
A minha situação de vítima... a minha isenção de culpa,
não eram levadas em consideração!

Não, eu não tive a menor parcela de culpa em relação
à tragédia que me aconteceu!

Naquele dia, eu me encontrava num retiro espiritual promovido pela
Juventude Operária Católica - JOC!
Em certo momento, um jovem veio
em minha direção e me ofereceu um pouco de vinho!
Lembro-me de haver ficado surpresa com a abordagem,
pois em verdade, nunca havíamos trocado uma única palavra.
Em princípio, eu recusei o vinho oferecido,
mas fui incentivada por outros Jocistas,
a aceitar.
Como estava entre pessoas consideradas responsáveis,
aceitei!

Infelizmente, em pouco tempo, fiquei sonolenta,
e, de acordo com depoimentos
posteriores, logo, adormeci!
O jovem teria informado aos organizadores do “retiro”,
que iria me levar para minha casa, e, também,
de acordo com depoimentos posteriores,
não teria havido objeção
(presume-se que os Coordenadores do evento, confiaram nele)!

Não sei como fui colocada no automóvel dele,
que caminho foi tomado,
nem onde fui parar!...
Não me lembro absolutamente de nada!...
E, graças a Deus,
também não me lembro do que ocorreu
no local onde fui resgatada!...
Ainda de acordo com depoimentos posteriores
(de Jocistas que ficaram no "Retiro"),
quando fui levada pelo Jovem,
já me encontrava inteiramente adormecida!

Vale ressaltar, que,
após tão grave e constrangedor incidente,
apesar de toda
a minha coragem e determinação em lutar e reagir...
o que "de fato", aconteceu...
durante um certo tempo, enfrentei grandes conflitos...
e, muitas vezes,
fui assaltada por pensamentos negativos!...

Em um desses momentos, acidentalmente,
sofri um afogamento em um rio
(Rio Barra Nova), durante uma "cheia"!
Sobrevivi, porque Deus foi generoso,
permitindo que eu fosse salva!

Participaram do meu salvamento,
minha mãe e um jovem atleta,
que solidariamente,
resolveu apoiá-la naquele momento de extrema dificuldade,
pois sozinha, ela não tinha forças físicas para ajudar-me!

Enquanto me debatia,
lembro-me de haver emergido duas vezes!...
E quando já perdia os sentidos,
o meu último pensamento foi para uma cerimônia
de casamento simbólico, no mar,
que fazia parte dos meus sonhos e desejos!

A correnteza já arrastava o meu corpo desfalecido,
que colidia com objetos estranhos,
também arrastados pela fúria das águas...
Como se Deus lhes houvesse revigorado as forças,
minha mãe e o jovem atleta,
multiplicaram os esforços...
e, após várias tentativas,
quando ninguém mais
acreditava que eu seria encontrada,
milagrosamente, fui resgatada!

Demorei a recobrar os sentidos!
Quando abri os olhos, havia ao meu redor
uma pequena multidão!...
Minha mãe, exausta e assustada, chorava muito!...
Eu me sentia completamente aturdida...
mas, alguma coisa no meu íntimo, me dizia
que eu havia renascido!

Muito trêmula e emocionada,
engatinhei para perto de minha mãe,
que provavelmente experimentava a sensação
de haver me dado à luz pela segunda vez!
Então, pela primeira vez, depois de "guerreira", chorei!...
Sempre ouvi dizer que guerreiro, não chora!...
Todavia, naquele momento,
eu seria capaz de desafiar a própria lei da guerra!...

Que ruflassem os tambores!...
Que soassem os clarins!...
Pois, apenas uma coisa tinha importância para mim:
eu estava viva... e, precisava chorar!

Não tive tempo para agradecer ao jovem atleta,
pois ele já havia deixado o local...
Entendi que ele era uma daquelas pessoas maravilhosas,
que não esperam agradecimento pelas lindas ações praticadas!

Anos depois, àquele jovem maravilhoso,
morreu afogado, vítima de cãibras!...
Como era um profissional da natação,
e costumava desempenhar o papel de “salva-vidas”,
não lhe prestaram socorro, por não haverem compreendido
que ele se encontrava em dificuldades!
Fui tocada pelos sentimentos da tristeza e da impotência:
Ele fizera tanto por mim!... E, eu, nada pude fazer por ele!

A poesia circulava no meu sangue...
estava em mim, intensiva e forte...
falando de rio e de mar....


NO ENCONTRO DAS ÁGUAS...


Corre a água do rio, velozmente...
em seu fluxo eu mergulho e adormeço!...
Perene, ela segue, indiferente
às cruciantes dores que padeço!

Em meu delírio, as emoções se afrontam...
Procuro em vão, amenizar as mágoas...
E quando o mar e o rio, se encontram,
eu me entrego ao delirar das águas...

Das águas fundas da desilusão,
tento emergir, mas não consigo, não!


O acidente no rio, mexeu e remexeu com meus sentimentos!
Fiquei um certo tempo, confusa e melancólica!
Houve um momento em que desejei ardentemente,
encontrar alguém
que me quisesse de verdade...
e, ao mesmo tempo, eu repelia tal desejo!
No íntimo, eu me sentia marcada!

Por outro lado,
sempre prevalecia o sentimento de mágoa e de rebeldia:
eu tinha de continuar "guerreira", custasse o que custasse!


(Dilma Damasceno)

Um comentário:

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