segunda-feira, 30 de abril de 2012

RAZÕES SENTIMENTAIS



… Já sofri muitas rasteiras
no campo do sentimento!…
E senti o sofrimento
de ver morrerem as roseiras
do jardim onde o desejo
não conhecia o pecado!
… Já peguei o bonde errado,
e me perdi num cortejo
de emoções delirantes!…
Mas, escolhi por Missão,
prosseguir na Procissão 
rumo ao “Altar dos Amantes”!


Sou adepta da bondade;
fazer o mal, não consigo.
Não sei aplicar “castigo”…
e só me sinto à vontade,
semeando o patamar
do solidário fervor!
 … Não sei mendigar amor!…
O que sei mesmo, é amar!


(Dilma Damasceno)
“Recanto Caboclo”, em 09 de Março de 2012

CONDENSANDO SENTIMENTOS...




A "avidez de amor" me faz pensar:
 o tempo passa tão rapidamente,
que já me vejo "sentimentalmente",
na estação do outono, a repensar!


 ... Como era doce o aroma, a incensar
o riacho, onde o sol, - calidamente -,
punha ouro no azul, cândidamente!…
E quão  fluente, era o verbo condensar!...


 Eu condensava tudo, no “presente”!
Um sabiá cantava lindamente
no galho da jurema perfumada!…


 E quando o sol chegava no poente...
restava condensado em minha mente:
Eu só queria ser feliz… mais, nada!


 (Dilma Damasceno)
“Recanto Caboclo”, em 11 de Abril de 2012

quarta-feira, 25 de abril de 2012

A FÉ SERTANEJA


Desde pequenina, conheço a Fé e a Devoção
do Povo Sertanejo.

Com o meu Avô Joaquim (Papai Quinca),
aprendi valiosas lições de solidariedade,
de coragem, de perseverança, e de simplicidade!

Estive em lugares castigados pela Seca,
participei de “calvalgadas” e “louvações”
ao Glorioso São José
(ouvi orações que mencionavam
pedidos de chuva, e de graças atendidas).

Sempre admirei os cactus, especialmente,
os mandacarus e os xique-xiques (suas flores e frutos).

Posso dizer que tenho certa intimidade
com a vegetação sertaneja...
gravados na memória do olfato, os cheiros das plantas nativas
aguçam as minhas evocações pastoris.

As bromeliáceas, os pereiros, as macambiras,
os juazeiros, as aroeiras, os umbuzeiros, etc., etc., etc.,
fazem parte do meu inesquecível “Jardim da Infância”!...

Mas no meu sertão,
não são apenas algumas plantas e flores
que demonstram sinais de inverno…
alguns pássaros, também!…
E quantas vezes ouvi o meu “Papai Quinca” anunciar:
 
Vamos amolar as ferramentas, e arranjar as sementes,
que o inverno vai pegar…
o xique-xique está florando, e o carão cantou… 
é hora de limpar o mato, e plantar o roçado.

E lá ia Ele com a enxada nas costas,
acompanhado dos meus Tios Maternos,
assoviando e cantarolando:

“Pássaro Carão cantou, Anum chorou também,
a chuva vem cair no meu Sertão…”
(Luiz Gonzaga e José Marcolino)

Das entranhas da alma crédula e sentimental,
brotou o lamento do sertanejo, na forma expressada pelo nosso querido Luiz Gonzaga, o imortal Rei do Baião,
que, em parceria com Humberto Teixeira,
compôs a belíssima música: “Asa Branca”,
conhecida em vários idiomas:

“Quando “oiei” a terra ardendo qual a fogueira de São João,
eu perguntei a Deus do céu, ai, por que tamanha judiação…”

E mais adiante:

“… Inté mesmo a asa branca bateu asas do sertão…
'Intonce' eu disse, adeus Rosinha,
guarda contigo meu coração…”

Mas, tenho a satisfação de mostrar
sinais auspiciosos revelados na música
“A Volta da Asa Branca”, destacando a percepção
que envolve a fidelidade à origem.

“Já faz três noites que pro norte, relampeia.
A 'asa branca', ouvindo o ronco do trovão,
já bateu asas e voltou pro meu sertão…
Ai, ai eu vou me embora, vou cuidar da 'prantação'…”
(Luiz Gonzaga e Zé Dantas)

Algumas palavras escritas e/ou faladas
na linguagem regional,
são perfeitamente compreensíveis…
Na composição de Asa Branca,
“oiei” (olhei)… “intonce” (então)… e, "prantação" (plantação)...
as manifestações retratam fielmente,
a forma simples do camponês falar.

Considerando que durante uma eternidade,
o homem do campo
sempre teve por escolaridade, o ofício da aragem…
e por lápis, a enxada…
e assim desenvolveu a arte de semear…
é com essa engenhosa pena
que compõe o que sabe, e o que sente!…

Particular e louvável, é essa linguagem
que tem como berço, a Natureza…
e sempre terá espaço cativo no inesgotável
“Livro da Terra”!

É com esse espírito de entendimento que encerro esta peça,
saindo da prosa para a poesia.
A febre do versejar, pede passagem… o que não posso negar,
pois, em verdade, sempre fui, e sempre serei vulnerável
a esse eterno contágio.
Por isso mesmo, estou sempre pensando, rabiscando,
e expressando o que sinto… como agora, por exemplo:

A Prosa e a Poesia
se abancaram em meu Jardim…
tomaram conta de mim,
e da minha Fantasia!…

Uma, é Jasmim… outra, é Lírio…
minhas Flores de Afeição!...
E ambas, são o Colírio
do Olhar do meu Coração!

Eita, divaguei… peço desculpas.
E passo a reafirmar em modestos versos,
o sentimento sertanejo, do jeitinho que me toca…


A FÉ SERTANEJA


Quando o Sertão for visto na essência,
e a consciência imperar de parte a parte…
Quando o saber, o engenho, e a arte,
gerarem os frutos da experiência
no campo genuíno da ciência…
Descansará, quem, incansavelmente
estuda a terra e deita-lhe a semente
que se transforma em saboroso pão…
Quem não sente os apelos do Sertão,
não sabe a Fé que o Sertanejo sente!...


Quando o inverno chega de repente…
diz “ô de casa”… e a saudação chuvosa
promete uma estação auspiciosa…
O Sertanejo, com expressão contente,
diz “ô de fora”, e pula p’ro batente!...
Mal cabendo no peito, o coração,
pega a enxada e segue em direção
ao roçado, com a alma renitente.
Não sabe a Fé que o Sertanejo sente,
quem não sente os apelos do Sertão!...


Quando o verde se esvai da plantação,
e cor de cinza fica o pé da serra,
- é quando a seca suplicia a terra -,
e quando a ave de arribação
vai procurar semente em outro chão!…
Mas, tudo muda milagrosamente
quando a chuva retorna ao solo quente,
e arrefece as brasas do verão!...
Quem não sente os apelos do Sertão,
não sabe a Fé que o Sertanejo sente!


(Dilma Damasceno)
“Recanto Caboclo”, em 02 de Abril de 2012