domingo, 18 de fevereiro de 2007

TAL E QUAL



Pinta-me, como sou: Ligeiramente louca!...
Mas, não esqueças de delinear
um amargo sorriso em minha boca!


O meu olhar, bem sabes, é tristonho!
Mesmo assim, não te omitas em traçar
na minha face, a expressão do sonho!


Fotografa-me, pois, sem alvoroço!
Quero ser copiada, fielmente.
Sem qualquer artifício. Em carne e osso!


Não sejas pródigo ao pintar-me o rosto.
Em meu semblante, tornes transparente
a marca do prazer; e o traço do desgosto!


Se me retratas como "borboleta",
devo avisar-te: Sou inconseqüente.
Meu coração, tem porta e maçaneta!


Mas, se queres entrar, - A casa é tua!
Pinta-me, então, apaixonadamente!...
Tal qual eu sou: Mulher! Vestida... Ou nua!


(Dilma Damasceno)

Um comentário:

Anônimo disse...

Todos os poemas da poestisa Dilma se estruturam, em grande parte, numa visão sensual. o Eros- pulsão de vida- toma forma nas imagens construídas no poema. É, exatamente, essa pulsão que é encontrada na primeira estrofe do poema "Tal e qual", do qual o sujeito lírico caracteriza como positivo a "loucura" presente na sua imagem, todavia, não esquecendo, o teor Thânatos_ pulsão de morte-, que nessa estrofe refere-se ao amargo encontrado na boca. Esse "jogo" se estabelece em alternância em todo o corpo do texto:
Thânatos: Olhar tristonho,desgosto inconsequente;
Eros:sonho, prazer, borboleta.
O sujeito poético no termino do poema convida a figura do "tu" para seu aconchego, porém já a dizer como se pinta. Ao construir a própria imagem, mostra-se que é feito de dualidade. Entretando totalmente pronta para entregar-se: "Mas, se queres entrar, - a casa é tua!"